segunda-feira, 17 de abril de 2017

O país da banalidade da pilantragem

Por Kiko Nogueira

O novo normal brasileiro nos acostumou a ser governados por uma corja que não largará o osso, chefiada por um sujeito que confessa que o golpe se deveu a uma chantagem não correspondida praticada por um comparsa — e vida que segue.
Toda a conversa fiada das pedaladas fiscais, que consumiu o tempo e o dinheiro do contribuinte e serviu para cassar 54 milhões de votos, não passava disso: conversa fiada.
Hannah Arendt falava da banalidade do mal.
Michel Temer incorpora a banalidade da pilantragem, essa especialidade nacional tão querida quanto a pizza de frango com catupiry.
Foi numa entrevista à Band no sábado à noite. Bem à vontade para quem está metido até as tampas nas delações da Odebrecht, cercado de entrevistadores que faziam questão de deixá-lo relaxado, numa roda de maconha virtual, Michel contou o seguinte:
“Em uma ocasião, ele [Eduardo Cunha] foi me procurar, umas duas horas da tarde mais ou menos, dizendo: ‘Olhe, hoje eu vou arquivar todos os pedidos de impeachment da presidente. Porque prometeram-me os 3 votos do PT no Conselho de Ética’.
No dia seguinte eu vejo no noticiário que o presidente do PT e os 3 membros do partido se insurgiram contra a fala e votariam contra [Eduardo Cunha no Conselho de Ética]. Quando eram 3 horas da tarde, ele me ligou dizendo: ‘Olha, tudo aquilo que eu disse não vale. Porque agora eu vou chamar a imprensa e dar início ao processo de impedimento’.
Então, vejam que coisa curiosa. Se o PT tivesse votado nele naquela comissão de ética, é muito provável que a senhora presidente continuasse. E quando conto isso, eu conto também para revelar: 1º) que ele não fez o impedimento por minha causa, evidentemente; 2º) que eu jamais militei para derrubar, como muitas vezes se diz, a senhora presidente da República.”
Tudo isso foi desfiado em frente ao jornalista Eduardo Oinegue, que assistia com ares de beócio, como se o tiozinho ao seu lado estivesse contando que foi ao supermercado comprar ovos de Páscoa mas ficou com uma lata de veneno de rato porque o preço estava melhor.
Michel rebaixou o país como um todo ao seu espírito de amanuense, de vice decorativo.
Quer dizer, ele nem queria aquela joça. O compadre Cunha, hoje na cana, causou a confusão e, veja como são as coisas, sobrou para ele.
Cada povo com o Eichmann que merece. O nosso mora no Jaburu, tem medo de fantasmas e gosta de mesóclises.

Nada de novo no front

Corrupção via caixa dois sempre esteve na pauta de grandes empresas e de gente que tem o poder. Não tem virgem nesta zona, dizia vovó Maria em sua extrema lucidez, quando ouvia que um poderoso tinha sido pego na malha da lei. 

A burguesia brasileira corrompeu e corrompe, constantemente, pois sabe que sempre tem um velhaco que pode decidir contra a economia do povo. Esses velhacos também sabem que dificilmente serão pegos ou presos por suas falcatruas, exceção de uns e outros. 
Com as delações premiadas, premiou-se os corruptores, que fazem acordos para serem soltos ou pegarem uma pena leve, para continuarem nadando em dinheiro.